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PLANTAS MEDICINAIS: DIDAL

Nome popular DIDAL
Nome científico Lafoensia pacari St. HIL
Fotos ampliadas Flores após 2h de abertura | Cascas secas
Árvore com a casca do caule retirada para fins medicinais
Família Lythraceae
Sinonímia popular Mangava-brava, candeia de caju, copinho, dedal, didal, dedaleira, pacuri, dedaleira-amarela, louro-da-serra, mangabeira-brava, pacari, pacari-do-mato, pacuri e pau-de-bicho.
Parte usada Casca
Propriedades terapêuticas Antioxidante, antitumoral, anti-úlcera gástrica.
Princípios ativos Ácido elágico, taninos.
Indicações terapêuticas Úlcera gástrica, gastrite, ferimentos, inflamação do útero, transtornos da vesícula biliar, emagrecimento e urticária.
Informações complementares O documento original foi publicado na Revista NEOgrafias (Campo Grande, MS). Veja no final a referência completa.
As fotos foram retiradas do trabalho de Vânia Tonello, referência 60 no final desta página.
Origem
Possui distribuição geográfica na América do Sul e América Central sendo endêmica no cerrado brasileiro.
Nesse local, pode atingir de 3 a 30 m de altura ocorrendo, principalmente, em formações secundárias como capoeiras e capoeirões com dispersão ampla, porém, descontínua, nunca formando grandes populações (GUARIM; PRANCE, 1994).
Por ser nativa no cerrado demonstra ser adaptada às condições físicas desse solo, no entanto, as condições ambientais em que se encontra refletem nas variações de altura ocasionando menor desenvolvimento dos espécimes de cerrado (GUARIM; PRANCE, 1994; TONELLO, 1997).
Descrição botânica
As flores, expostas acima da copa de forma ereta ou ligeiramente inclinadas, possuem pétalas de cor branco-amarelada, numerosos estames com anteras razoavelmente grandes, exalam odor desagradável e possuem ântese crepuscular (CORREA, 1978; TONELLO, 1997; POTT; POTT, 1994).
Todos esses atributos florais sugerem que a polinização de L. pacari ocorra, principalmente, por morcegos (síndrome da quiropterofilia), mesmo havendo produção de néctar constante capaz de atrair outros animais e insetos polinizadores (SAZIMA; SAZIMA, 1975; POTT; POTT, 1994; TONELLO, 1997).
Os frutos são cápsulas conspícuas com sementes aladas o que favorece a disseminação da espécie através do vento (CORREA, 1978; TONELLO, 1997; POTT; POTT, 1994)
O termo pacari é de origem indígena (tupi-guarani) significando "árvore de madeira preciosa" concordando com Guarim e Prance (1994) que enquadra essa espécie entre as mais importantes do cerrado mato-grossense para uso medicinal (POTT; POTT, 1994; GREGÓRIO apud TONELLO, 1997).
Uso etnomedicinal
Vários levantamentos etnobotânicos registram o uso medicinal de sua casca nos Estados de MT e MS (comunidades de Santo Antônio do Leverger, Alto Coité/ Poxoréu, Baús/ Acorizal, Santo Antônio do Livramento, Rio Branco e entre os raizeiros de Campo Grande e Cuiabá).
Nessas regiões é empiricamente conhecida como mangava-brava, candeia de caju, copinho, dedal, didal, dedaleira, pacuri, dedaleira-amarela, louro-da-serra, mangabeira-brava, pacari, pacari-do-mato, pacuri e pau-de-bicho sendo que, nos Estados de MT e MS, prevalecem os nomes mangava-brava e dedaleira, respectivamente (ARRUDA, 1994; SOMAVILLA, 1998; GONÇALVES, 1999; DE LA CRUZ, 1997; RESENDE et al., 2003).
Solon et al. (2000) registram o emprego medicinal dessa droga vegetal no oeste do Paraguai, onde é conhecida como "morosyvó" e empregada oralmente (decocto) para o tratamento de câncer.
Uso medicinal
O uso medicinal é amplo com destaque sobre o macerado aquoso para o tratamento da úlcera gástrica e gastrite.
Sua utilidade também é registrada para ferimentos, inflamação do útero, transtornos da vesícula biliar, emagrecimento e urticária (GUARIM; PRANCE, 1994; DE LA CRUZ, 1997; TONELLO, 1997; SOMAVILLA, 1998; SOLON, 1999).
Nas indicações de uso oral sugere-se a maceração em água ou vinho, com consumo periódico enquanto persistir o quadro patológico (DE LA CRUZ, 1997; TONELLO, 1997).
Toxicidade
Esses autores ainda informam sobre a toxicidade do decocto, provocando náuseas e vômitos.
Lago (2004), em trabalho recente, buscou verificar o grau de toxicidade aguda e subcrônica das preparações medicinais caseiras (decocto e macerado aquosos) realizadas com a entrecasca de L. pacari. Conforme esse autor, a DL50 avaliada em ratos Wistar não foi alcançada na dose máxima de 5000 mg/kg sugerindo que tanto o macerado quanto o decocto não são capazes de causar danos ao usuário se soluções concentradas forem ingeridas em dose única. Quanto à toxicidade subcrônica dos extratos em diferentes concentrações, o autor afirma ter evidenciado algumas alterações bioquímicas decorrentes, provavelmente, de lesão hepática. Entretanto, também declara ser necessário reproduzir o experimento para obter resultados conclusivos.
Associações medicamentosas
Conforme De La Cruz (1997), os raizeiros de Cuiabá também indicam associações medicamentosas de L. pacari com sucupira, jequitibá, barbatimão, salssaparilha, espinheira-santa, purga-de-lagarto e malva.
Outros usos
Pelo seu aspecto ornamental e por apresentar bom desenvolvimento em solo no início do processo de sucessão, recomenda-se o uso da árvore para o paisagismo em arborização urbana e em áreas de reflorestamento (LORENZI, 1992; CARVALHO 1978).
Já a sua madeira, por ser moderadamente pesada, apresentar superfície lisa ao tato e boa durabilidade, é indicada para construção civil (CORRÊA, 1978; LORENZI, 1992; POTT; POTT, 1994; TONELLO, 1997).
Aspectos farmacológicos
A coleta do farmacógeno ainda é extrativista sendo, geralmente, realizada no cerrado próximo ao centro urbano. Após retirada do súber e secagem ao sol, a casca é comercializada em sacos plásticos com porções de, aproximadamente, 100 g.
A produção científica sobre os aspectos químico-farmacológicos de L. pacari iniciou-se com a triagem farmacológica de plantas medicinais de Mato Grosso empregadas como antiinflamatória e anti-úlcera (MARTINS; PINHEIRO, 1996; SARTORI; MARTINS, 1997). Nesse sentido, Sartori e Martins (1997) apontaram essa droga como uma das mais potentes sobre a ação antiúlcera gástrica, entre 8 espécies analisadas.
Em continuidade, Tamashiro-Filho e Martins (1998) e Tamashiro-Filho (1999) verificaram a ação do extrato bruto metanólico (EBMeOH) da casca em diversos ensaios in vivo em ratos Wistar, após administração oral ou intraperitonial.
Os ensaios farmacológicos realizados por Tamashiro-Filho (1999) foram: teste hipocrático, toxicidade aguda (DL50), toxicidade subcrônica, motilidade do trânsito intestinal, tempo de sono barbitúrico; tempo de imobilização pressão arterial média, atividade antinoceptiva periférica, atividade antiinflamatória por edema de pata induzido por carragenina e atividade antiúlcera pelos modelos de lesões gástricas induzidas por etanol, estresse hipotérmico, ácido acético e indometacina.
Os resultados indicaram que a administração oral do EBMeOH não possui toxicidade aparente, entretanto, quando administrado intraperitonialmente apresentou DL50 de 556 (± 40 mg/kg). As alterações da pressão arterial média, motilidade gastro-intestinal e do efeito analgésico periférico, também não foram evidenciadas. Entretanto, os ensaios para efeito antiúlcera atestaram potente atividade dose-dependente (doses variando entre 12,5 a 200 mg/kg) na inibição das lesões de úlcera crônica causada por ácido acético e das lesões gástricas agudas induzidas por etanol, indometacina e estresse hipotérmico (TAMASHIRO-FILHO, 1999).
Outros estudos biológicos registram a eficácia do extrato aquoso da casca de L. pacari sobre a peritonite aguda induzida por carragenina, ação imunoestimulante sobre a produção de anticorpos contra antígeno timo-dependente, inibição da hipersensibilidade tardia e atividade imunossupressora dependente da dose sobre a síntese de anticorpos anti-ovoalbumina (ALBUQUERQUE; JULIANI; SANTOS, 1996a; ALBUQUERQUE; JULIANI, 1996b ALBUQUERQUE; JULIANI, 1997a; ALBUQUERQUE; JULIANI, 1997b; ALBUQUERQUE; LOPES, 1999).
O potencial terapêutico do extrato de L. pacari (200 mg/kg, p.o.) em inflamação mediada pela interleucina IL-5 também foi comprovada por Rogerio et al. (2003) em ratos (mices) infectados com Toxocara canis. Apesar da ação antiinflamatória positiva, esses autores afirmam que essa droga vegetal não possui efeito tóxico para o parasita.
Também é declarada a ação antimicrobiana dos extratos das folhas e da casca sobre Candida albicans e Staphylococcus aureus (PIRES; ARAÚJO; PORFÍRIO, 2003). Segundo os autores, aos extratos obtidos a partir da casca possuem atividade positiva sobre C. albicans e os extratos da folha são ativos sobre os dois microorganismos testados. A potente ação antibacteriana do extrato hidroalcoólico de L. pacari contra bactérias multi-resistentes de origem hospitalar é registrada por Melo-Filho, Lima e Porfírio (2003).
Até o momento, somente o trabalho de Souza et al. (2002) indica atividade farmacológica negativa. Essa pesquisa avaliou o extrato etanólico das folhas de L. pacari sobre o fungo dermatófito Trichophyton rubrum.
Aspectos fitoquímicos
No que se refere a fitoquímica de L. pacari, a literatura científica aponta somente estudos sobre a casca e folha. Nessa última, Salatino et al. (2000) e Santos, Salatino e Salatino (2000) registram a presença de quercetina, 3-O-glucosídeo e 3-O-glucosil-glucosídeo de caempferol. Vale informar que esses estudos visaram auxiliar a determinação do padrão evolutivo da família Lythraceae através de parâmetros quimiotaxonômicos avaliando as substâncias flavônicas de alguns integrantes dos gêneros Cuphea, Diplusodon e Lafoensia. Neste último gênero somente L. pacari, L. densiflora e L. glyptocarpa foram analisadas.
O estudo fitoquímico sobre a casca foi realizado simultaneamente ao trabalho de Tamashiro-Filho (1999) indicando presença marcante de ácido elágico e taninos relacionados, havendo 14,1% p/p dessa classe química no extrato bruto ensaiado pelo método de Folin-Ciocalteau (SOLON, 1999; SOLON et al. 2000). Realizando o fracionamento químico biomonitorado através de ensaios in vitro sobre o potencial antioxidante (radical difenil-picril-hidrazila: DPPH; xantina oxidase: XO), esses autores ainda afirmaram ser o ácido elágico o marcador químico e o responsável pela potente ação antioxidante de cascas de L. pacari, coletadas no Brasil e no Paraguai.
Sobre a variabilidade química da casca de L. pacari nativas do cerrado e do pantanal Prette et al. (2004) e Braga et al. (2004) informam que as condições edáficas e climáticas do pantanal no período de chuva são ideais para a produção ou armazenamento de ácido elágico (cerrado: 4,5 mg/g, pantanal: 108% p/p), sendo o contrário observado para amostra coletada no cerrado no período de seca (1,01% p/p).
Esse marcador químico também foi identificado nas folhas de L. pacari através de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) (CONTIN; SOLON 2004). Esse resultado, associado à alta capacidade antioxidante do extrato etanólico das folhas, pode indicar a substituição medicinal do farmacógeno (casca) (MARÇAL et al., 2004).
Atualmente, a comprovada atividade antimutagênica do ácido elágico é o seu principal benefício terapêutico possibilitando sua comercialização para uso oral na forma de cápsulas gelatinosa com distribuição, inclusive, pela Internet (BARCH et al., 1996; LOARCA-PINA et al., 1998; KAUR; GROVER; KUMAR, 1997; THRESIAMMA; KUTTAN, 1996).
A inibição da atividade da enzima arilamina N-acetil-transferase de Helycobaster pylori pelo ácido elágico, conforme reportado por Chung (1998), sugere o potencial antiúlcera dessa substância o que, logicamente, corrobora o uso popular da casca de L. pacari para o tratamento dessa patologia.
O efeito antioxidante do ácido elágico também é comprovado em pesquisas diversas (HATANO; YASUHARA; YOSHIHARA, 1989; HASSOUN et al., 1997; SÓLON et al., 2000). Trabalhos como de Hatano; Yasuhara e Yoshihara (1989) e Solon et al. (2000) avaliaram o efeito desse composto sobre a enzima xantina oxidase indicando IC50 de 3,1 µM e 1,1 micro/mL, respectivamente. Em ensaio in vitro, Solon et al. (2000) também indicam efeito de 89% do ácido elágico (100 microg/mL) sobre a descoloração do radical DPPH.
A amplitude dos efeitos biológicos benéficos do ácido elágico faz da casca de L. pacari uma importante fonte medicinal. Mesmo havendo inúmeras e complexas substâncias químicas nessa droga vegetal, a comparação das atividades terapêuticas do ácido elágico com o uso medicamentoso da casca de L. pacari sugerem a atuação dessa substância como principal composto químico ativo.
Na busca de subsídios capazes de auxiliar no controle de qualidade da droga vegetal "mangava-brava" ou "dedaleira", Rocha e Resende (2004) determinaram parâmetros morfo-anatômicos da entrecasca de L. pacari. Observaram que a organização geral desse farmacógeno apresenta um felema constituído por vários estratos de células retangulares dispostas de maneira compacta e que exibem parede simples, delgada rica em suberina. Internamente ao felogênio, o feloderme é constituído de células vivas ricas em amido e grande quantidade de cristais prismáticos, dispostos radialmente. Na constituição da casca verificaram, ainda, blocos de células esclerenquimáticas acima do floema. Em toda a extensão da casca foi notada presença de idioblastos com conteúdo mucilaginoso e com fenóis. Estes aspectos não mostraram-se alterados em amostras coletadas no cerrado e pantanal, nos períodos de seca e chuva (BRAGA et al. 2004).
Outras espécies de Lafoensia Vand.
Além de L. pacari, somente L. densiflora e L. glyptocarpa foram analisadas sob aspectos químicos e farmacológios. Sobre a primeira (L. densiflora), há estudo fitoquímico aprofundado sobre as folhas reportando presença de diversos compostos quimicamente diferentes, variando entre ácidos triterpênicos, álcool, saponinas, floroacetofenona e flavonóides (RODRIGUES, 1999; SALATINO et al., 2000; SANTOS; SALATINO e SALATINO, 2000). Das flores de L. densiflora, Sakamoto et al. (1995) também indicam haver triterpenos (3beta-acetoxi-11alfa-epoxi-oleanan-28,13beta-ólido, 3beta-acetoxi-12alfa-hidroxi-oleanan-28,13beta-olido, betulina, ácido betulínico, acetato do ácido oleanólico, ácido hexacosanóico e beta-sitosterol), éster graxo do ácido cis-cumárico, éster graxo do ácido trans–cumárico e o açúcar hexa-acetato de manitol.
Os estudos biológicos de L. densiflora se restringem a ensaios microbiológicos comprovando-se efeito do extrato etanólico das flores sobre Staphylococus aureus e Eschericchia coli e das folhas sobre Cladosporium sphaerosperum (RODRIGUES, 1999).
Os estudos fitoquímicos das folhas de L. glyptocarpa reportam a presença de saponinas (28-O-beta-D-glucopiranosil do 3beta-O-L-arabinopiranosiloleano-12-en-28-oíco e o 3beta-O-beta-D- glucopiranosil de beta-sitosterol) e flavonóides (3-O-galactosídeo de caempferol e 3-O-glucosídeo) (CARVALHO; CARVALHO; BRAZ-FILHO, 1999; SANTOS; SALATINO; SALATINO, 2000; SALATINO et al., 2000). O pó das folhas e dos frutos dessa espécie, em estudo inseticida sobre o caruncho Acanthoscelides obtectus (Say) (Coleoptera: Bruchidae) em feijão armazenado, ocasionou repelência e mortalidade sobre adultos e ausência de efeito nocivo na oviposição (MAZZONETTO e VENDRAMIM, 2003).
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Colaboração
Soraya Solon, Professora de Farmacognosia do Curso de Farmácia da UNIDERP (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal), Campo Grande (MS) - agosto de 2005.
Adaptado do original
BRAGA, L. G.; SOLON, S. O gênero Lafoensia vandeli: revisão bibliográfica com ênfase nos aspectos etnobotânicos, fitoquímicos e farmacológicos de Lafoensia pacari ST. HIL (LYTHRACEAE). NEOgrafias, Campo Grande (MS), v.17, p. 49-59, agosto 2005.

Fonte: http://ci-67.ciagri.usp.br/pm/index.asp

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